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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

DIÁLOGOS LITERÁRIOS - Erik Santana


Fantasias e realidades
de Erik Santana


  Diálogos Literários é uma seção nova que criei para o blog. O intuito é apresentar autores, escritores, leitores, bookaholics, blogueiros, todo tipo de pessoas interessantes relacionadas ao universo dos livros.
  Para os Diálogos Literários de estreia, convidei o autor de literatura fantástica e meu conterrâneo, o osasquense Erik Santana. Ele fala abaixo sobre sua obra, Filhos da Noite.

BOOKS, PEOPLE & STUFF - A sua obra ‘Filhos da Noite’ se enquadra no gênero Literatura Fantástica. Só para nos situarmos neste universo, o que exatamente é a Literatura Fantástica?
ERIK SANTANA - A literatura, por mais que a gente tente deixá-la o mais próximo possível da realidade, está ligada diretamente ao fantasioso, ao irreal, ao imaginário. Conforme citou, magnificamente, Antônio Cândido: “Não há povo e não há homem que possa viver sem ela [a literatura], isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação”.
Sendo assim, temos a criação do fantástico, do imaginar irreal que o ser humano carrega dentro de si.
Em meados do século XX, na Europa, em especial na Espanha, foi criada uma escola literária voltada para os temas fantásticos, na qual chamaram de Literatura Fantástica ou Literatura Maravilhosa. Nos países latino-americanos, foi determinado que essa escola fosse conhecida como Realismo Mágico, que pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse de mostrar o irreal ou estranho, como algo cotidiano e comum, conforme definiu o cubano Alejo Carpentier.
Por mais que o Mágico pareça não se preocupar com a realidade, ele possui algumas características próprias, como: elementos mágicos não explicados, vivência dos personagens com seres sobrenaturais ou experiências fantásticas, a linha do tempo é distorcida, fazendo o presente se parecer com o passado… Sendo assim, o que achamos ser Literatura Fantástica Nacional, na realidade é considerada, literalmente, como Realismo Mágico.
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BPS - Como e quando surgiu a ideia para o livro ‘Filhos da Noite’?
ES - Essa é uma história interessante. Em meados de 2004, quando trabalhava em uma editora, os funcionários que mantinham acesso direto com os textos, tinham reforço em linguagem. O tutor das “aulas” sugeriu a escrita de um conto. Assim que terminei a escrita, me surgiu a ideia de transformá-lo em um romance, pois ele ultrapassara as trinta páginas. Com o passar do tempo o conto foi criando cara de romance até que o terminei.
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BPS - Quanto tempo levou para finalizá-lo?
ES - A escrita de Filhos da Noite foi feita em duas etapas. Logo que o conto se transformou em romance, deixei-o de lado por quase dois meses. Em certo dia, relendo e revisando, decidi inserir aspectos literários na obra, pois até então ela não passava de um livro de suspense, terror. Sei que o projeto todo, do início, como conto, até o término, já com os elementos literários incluídos, demorou aproximadamente um ano.
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BPS - Em que momento da sua vida você decidiu que se tornaria um escritor profissional?
ES - Bom, não acredito ser, ainda, um escritor profissional, pois não vivo somente disso. Há pouco tempo, logo que o livro foi, finalmente, publicado, decidi encarar o desafio e dedicar bastante tempo à leitura de obras do gênero para que consiga, realmente, me tornar um escritor profissional. Mas enfim, com o tempo e com a facilidade de escrever e sempre me aperfeiçoando, pretendo viver da escrita.
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BPS - ‘Filhos da Noite’ é a sua primeira obra. Quais foram os maiores desafios na construção desta história?
ES - Sem dúvidas, o maior desafio foi incluir aspectos literários na obra, pois isso requer muito estudo e pesquisa. Para que a diferenciação seja perceptível, a linguagem e determinados conceitos devem ser inseridos na obra de forma que o leitor seja “induzido” a acreditar nos mesmos paradigmas e formas de pensar do autor. Simplificando, o escritor se transforma, inconscientemente, em um formador de opinião. Claro que ainda há muito que aprender, mas chego lá.
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BPS - Nos conte um pouco sobre o enredo da obra.
ES - Durante a Europa do século XVIII, um vampiro solitário decide criar uma “filha” e transformá-la em uma vampira. Devido às perseguições de caçadores inquisidores, eles têm de deixar o Velho Mundo à procura de um local seguro para seguirem com suas existências e acabam encontrando no Brasil, uma nação em crescimento, que acabou de estabelecer-se como República, o local ideal. Com o passar dos anos e interagindo no avanço político do nosso país, os vampiros europeus deparam-se com um novo problema, quando um semelhante poderosíssimo decide procurá-los.
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BPS - Por que você decidiu se enveredar pelo gênero fantástico e não por outros, como o romance e a ficção?
ES - Afeiçoei-me com o Realismo Mágico justamente por ser enraizado com o tema. O primeiro livro que li, com exceção dos clássicos da literatura nacional, foi ‘Entrevista com o Vampiro’ e sempre quis mais sobre os vampiros. Queria que a narrativa de Rice tivesse uma continuação e passei a viver aficionado com isso. Em cada situação da minha vida, colocava os vampiros nelas e imaginava como seria se eles existissem. Quando tive a oportunidade e maturidade de escrever, sem dúvidas que deveria ser sobre eles. E também quis um diferencial. Não queria que meu livro fosse tratado como ficção, terror ou suspense, queria que ele tivesse conteúdo, que qualquer pessoa o lesse para obter algum conhecimento. Mas com a demora na publicação, veio a onda Crepúsculo, e a dificuldade em colocar essa ideologia acabou sendo muito mais árdua do que imaginava.
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BPS - Observamos atualmente uma infinidade de títulos que abordam o universo dos vampiros. Alguns leitores já confessaram estar um pouco cansados deste assunto depois da saga “Crepúsculo”. Qual é o diferencial do seu livro? Por que vale a pena lê-lo?
ES - Conhecemos centenas de pessoas que começaram a ler ou voltaram a dedicar tempo para a leitura justamente com o sucesso de obras como Crepúsculo e Diários de Vampiros. Mas a literatura não se resume somente a isso. É claro que devemos congratular esses sucessos, pois eles incluíram um novo público no cenário literário do Brasil, tanto de leitores como de autores. O que acontece é que esses leitores que confessam estarem cansados do tema, verdadeiramente não estão ou não estavam preparados para se enraizar na literatura. Quando digo literatura, não estou me referindo simplesmente ao Realismo Mágico.
Mas a questão é simples. Veja: há muitos anos se fala e se escreve sobre vampiros. Esse gênero tão rico e explorado não surgiu com Stephenie Meyer, Lisa Jane Smith, Kristin Cast, J.R. Ward ou mesmo o André Vianco. Sendo que eles não têm a bagagem de Anne Rice, por exemplo, ou até Stephen King, que já escreveu sobre o tema. Temos de entender que o tema vampiros não se resume a esses novos escritores, pelo contrário, eles pegaram um trem que já está no trilho há décadas. Leio sobre vampiros há mais de dez anos, quando conheci o Entrevista com o Vampiro, de Rice, e não me cansei, pois sou apaixonado pelo gênero, tanto que escrevi sobre ele.
No Filhos da Noite, não há muita diferença dos demais, somente alguns aspectos que acredito serem mais atrativos, como explorar os vampiros como um reflexo da maldade, insuficiência humana e seus falsos valores. Quero que o leiam aqueles que pretendem conhecer mais o tema, ter mais uma visão sobre o gênero e principalmente os que o amam verdadeiramente e não somente arrastem seus olhos pelas linhas somente por puro modismo.
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BPS - O livro está em seu volume 1, o que significa que a história terá continuação. Em quantos volumes pretende chegar ao final?
ES - Depois que comecei a me envolver com a trama, houve muitas surpresas. Primeiro, o personagem principal não era para ser aquele que foi. Segundo, as ideias foram surgindo e o livro acabou ficando grande demais para apenas um volume. Então resolvi dividi-lo em três volumes. Eu já tinha pelo menos dois, prontos na mente. Com o tempo, o terceiro veio na cabeça e agora é só continuar a escrever. Foi tudo muito inesperado. O que era para ser um conto transformou-se em uma obra de três volumes.
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BPS - Você já admitiu a sua grande admiração pelo autor de literatura fantástica André Vianco, um dos autores de maior sucesso nesta categoria aqui no Brasil. Além disso, você e ele são conterrâneos. Ambos de Osasco, SP. Que influência ele tem sobre a sua escrita?
ES - Muita influência. Um dos fatores das obras do André que mais me influenciaram foi a questão da ambientalização do cenário. Quando comecei a escrever o conto Filhos da Noite, ele era totalmente passado na Europa. Com a influência do Vianco, resolvi trazê-los, os personagens, para o Brasil, para São Paulo, para Osasco. Costumo dizer que a cidade preferida para os vampiros do mundo é Osasco. (risos!)
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BPS – Quais outros autores também influenciaram em sua escrita?
ES - Olha, são inúmeros os autores que me influenciaram e ainda influenciam, cada um com sua característica e forma. Posso citar alguns escritores do Mágico, que me auxiliaram a compreender a complexidade do tema. Há o Borges, com seu Realismo Fantástico voltado para a filosofia. A poesia instigante de Dante Alighieri. O fascinante domínio de narrativa de Alejo Carpentier. A clareza em expor os fatos mágicos de Murilo Rubião. E não posso deixar de citar aquele que foi o precursor do Realismo Mágico, Gabriel Garcia Marquez, com sua audácia indescritível em expor o fantástico.
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BPS – Quando será o lançamento da sua obra?
ES - O lançamento oficial do livro será na Biblioteca Monteiro Lobato, em Osasco, provavelmente no fim do mês de novembro. Não posso confirmar a datas, pois pretendo realizar uma surpresa agradabilíssima para os presentes. Preciso confirmar a surpresa para bater o martelo e selar a data e horário. Acompanhem e fiquem de olho por aqui e pelo blog do livro que, em breve, teremos novidades.
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Obra: Filhos da Noite Vol. 1 – Erik Santana
Editora: Cidadela Editorial
ISBN: 978-85-7978-054-7
Páginas: 268

3 comentários:

  1. Boa Fabiaaaa! Excelente entrevista! Fica aqui a minha torcida por mais entrevistas como esta! bj!

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  2. Parabéns, jornalista!!!!

    Ótimo conteúdo. Ótima ideia de seção.

    Beijos!

    FP

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  3. Show! Parabéns pela entrevista! Sempre é bom ver a literatura crescer desse modo! Abraços.

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